A THEODORA

A THEODORA

Sabe o sonho do gato, ilustração de Nadja de André Breton, aquele escritor francês? Um gato com uma sereia tão longe tão perto, tudo certo, mais ou menos assim, e além do mais com um pássaro na cabeça? Assim é o que lhe parece, desde 2001, Rita Wainer, 28, e a sua Theodora, grife e felina nascida do batismo da gata que bebe o leite da sua casa. O resto é moda.

“Madame, surréalisme c´est moi.” Assim dizia, baseado no surrealismo acima citado, uma camiseta clássica auto-explicativa dessa autora, um dos seus primeiros emblemas que circularam pela cidade de SP. O surrealismo hoje é Rita e Theodora, um surrealismo para driblar o realismo-fantástico, pois tudo tem ficado muito louco por aqui, é ou não é?

Enquanto o realismo-fantástico é aquela coisa da loucura mágica dos Tristes Trópicos, já pra lá do cliclê, R.W. propõe a recuperação do sonho de fato. O delírio como fetiche & luxo desses tempos efêmeros. Ou seja: consuma seu próprio sonho antes que o outro dele se aproprie ou que o danado vire realidade. Se fosse um novo mandamento assim estaria escrito: não é proibido sonhar o sonho do próximo

O sonho do próximo, aliás, sempre pode ser encontrado, democraticamente, na arara do magazine ou no tabuleiro baiano do camelô. Tempos que se avexam e repetem, num piscar de cílios postiços, o que acabou de passar na vista e nas passarelas do mundo inteiro, como se tudo não passasse de um jet lag de um sonho démodé.
R.W.,na idéia mais modesta e simplista possível, seria, antes de ser uma estilista, uma artista ,que usa a moda como mídia para expressar suas idéias .

Então voltemos ao velho Breton: “O fim da minha inspiração, que é o começo da tua.” Isto é Rita Wainer. Sonho embalado para o seu enredo próprio.


Xico Sá, escritor e jornalista, SP, verão de 2006

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G.A